lundi 26 avril 2010

Comparaçao entre Lula e FHC é inevitável

por Fernando Ferro*

De maneira pretensiosa, a oposição decidiu que vai fugir às comparações entre os governos Lula e Fernando Henrique Cardoso [FHC], como se as eleições deste ano fossem realizadas em outro planeta. O debate é inevitável, com ou sem a participação da oposição e de seus porta-vozes na mídia. Os demo-tucanos querem, na prática, esconder que fizeram parte do fracassado governo FHC (1995-2002), que quebrou o país três vezes, levou ao apagão de 2001 e rastejou perante o FMI.

Em 2002, no plano federal, o povo queria mudanças e eles prometiam continuidade; agora, a grande maioria da população quer manter o ritmo mudancista, com crescimento econômico, geração de empregos e inclusão social, e eles querem retroceder. A tática é tentar desconstruir os êxitos alcançados a partir de 2003.Certamente o PT e seus aliados não terão dificuldades para remover as densas camadas de mistificação montadas para embelezar o retumbante malogro dos governos de FHC. Já em 2006, independentemente da histeria da maior parte da mídia, o povo separou o joio do trigo.

Insiste-se que o governo Lula seria simples continuação do de FHC, mas a maioria da população sabe que não é. Exemplo: em oito anos, FHC criou 780 mil empregos, registrados no Caged (Cadastro Geral de Empregados e Desempregados) para celetistas, enquanto em sete anos e meio o governo Lula gerou 12 milhões. Esse dado é estarrecedor e tanto mais grave quando se considera que há quem pense que não é necessariamente um símbolo do fracasso de FHC, porque entre suas prioridades não estava a geração de empregos. Com Lula, o salário mínimo teve aumento real de 53%, desmentindo a cantilena neoliberal de que esse aumento quebraria a previdência e os pequenos municípios. A dívida externa foi eliminada, e a interna, reduzida em mais de 20 pontos percentuais. A dívida com o FMI foi quitada e o país se tornou credor da instituição, além de construir uma reserva cambial de US$ 240 bilhões.

O Brasil de Lula, com políticas heterodoxas, firmeza e em defesa do interesse nacional, conseguiu superar os graves reflexos da crise mundial iniciada em 2008, a qual teria levado o país à UTI se ocorrida no ortodoxo governo de Fernando Henrique. Este, diante das crises periféricas que enfrentava, recorria ao FMI para pedir um empréstimo, aumentava impostos e as taxas de juros e arrochava os salários. Em 2008, Lula apostou no consumo e, em vez de aumentar os impostos, aplicou uma desoneração gigantesca. Foi dessa maneira que o Brasil superou a crise.

O povo percebe em seu dia a dia as alterações que vão se processando e que se expressam nas taxas mais baixas de inflação da história, no sucesso dos programas sociais e na maior oferta de oportunidades em muitos aspectos da vida.Com políticas públicas e desatrelados do elitismo, fortalecemos a economia interna, com a inclusão de 30 milhões de pessoas à classe média. A vitória frente a FHC não se deu apenas nos números da economia, nos indicadores sociais e na política externa. O avanço na consolidação dos espaços da democracia é igualmente importante: o conjunto de conferências realizadas (saúde, idosos, comunicação etc.) revela a participação popular na construção de políticas públicas. Até o PAC foi também elaborado a partir de contribuições de lideranças populares e empresariais, inovando na forma de governar e consolidando instrumentos de democracia direta.

A oposição busca desqualificar e negar a realidade, guiando-se, sem respeitabilidade democrática, pela memória de Carlos Lacerda. Qual é o presente de uma oposição que hoje usa discurso moralista hipócrita, fingindo ignorar inúmeros comprometimentos com diferentes e repetidos casos de corrupção, onde a crise de Brasília é apenas a mais visível? Não há como José Serra escapar de ser o anti-Lula: a eleição será plebiscitária e marcada pela confrontação entre os dois polos. As comparações podem ir além de Lula e FHC, envolvendo também os governos estaduais e municipais e temas como ética, gestão, soberania nacional etc.

A comparação é tão importante e necessária que o candidato tucano usa discurso defensivo e matreiro do pós-Lula. Quer pegar carona na popularidade de Lula, a quem não consegue atacar, e revela que não houve nem haverá pós-FHC. Essa é a síntese de um confronto de projeto que nos é amplamente favorável. A história nos diz que não há futuro sem presente e passado. Mas os tucanos tentam desesperadamente esconder o seu.

*Fernando Ferro é engenheiro eletricista, é deputado federal pelo PT-PE, líder do partido na Câmara dos Deputados e vice-presidente da Comissão de Energia e Minas do Parlamento Latino-Americano (Parlatino).

Texto publicado na coluna Tendências/Debates do jornal Folha de S. Paulo, edição de 20/04/2010: http://www.pt.org.br/portalpt/opinioes/comparacao-entre-lula-e-fhc-e-inevitavel-4167.html

vendredi 23 avril 2010

Mar del Plata, sede de la XX Cumbre Iberoamericana

La XX Cumbre Iberoamericana se celebrará los días 3 y 4 de diciembre en la ciudad argentina de Mar del Plata.Los mandatarios iberoamericanos centrarán sus deliberaciones sobre el tema Educación e Inclusión Social.También, los bicentenarios de la independencia de varios países iberoamericanos formarán parte de las celebraciones de la Conferencia Iberoamericana en este año 2010.

Enlace: http://segib.org/cumbres/mar-del-plata-sede-de-la-xx-cumbre-iberoamericana/

mercredi 21 avril 2010

Fábrica papelera en la ribera del río Uruguay - Botnia

Corte Internacional de la Haya


Texto completo del fallo de la Corte Internacional sobre el caso Botnia en FR:

Texto completo del fallo de la Corte Internacional sobre el caso Botnia en EN:

Las democracias malas de centroamérica. Para entender lo de Honduras, una introducción a Centroamérica

Summary.

The rise in crime in Honduras is not the result of the coup d’état. But the military mob revealed that associated with the security forces were people who, in many cases, were denounced as those responsible for the disappearances and persecutions in the 80s. The central argument of the article is that, in many Latin American countries, the State plays a primordial role in the reproduction of criminal violence. Not only for the inefficiency and negligence of the institutions, but also because in many cases the State itself, through its institutions and agents, is directly responsible for the crimes and acts of violence suffered by the population. The crisis in Honduras confirms the necessity of an ample democratic reform of the state institutions, based on respect of law and human rights.

Texto completo: PDF

Publicado en: http://www.nuso.org/revistaActual.php?n=226

mardi 20 avril 2010

¡Son los empleos, estúpido!

por Marino J. González

"El panorama económico sigue sin mejoras; La economía no crece, la inflación sigue sin control. Las encuestas de opinión pública continúan indicando que uno de los primeros problemas de los venezolanos es el empleo."

Artículo completo en: http://www.talcualdigital.com/Avances/Viewer.aspx?id=33677&secid=45

lundi 19 avril 2010

Informe de la CEPAL sobre comercio China-América Latina:

China será el segundo mercado para la región a mediados de la próxima década

Aprovechar las oportunidades en comercio e inversión con este socio estratégico requeriría esfuerzos concertados a nivel regional.

Noticia completa en:
http://http://www.eclac.cl/cgi-bin/getProd.asp?xml=/prensa/noticias/comunicados/2/39092/P39092.xml&xsl=/prensa/tpl/p6f.xsl&base=/tpl/top-bottom.xsl

vendredi 16 avril 2010

Elecciones presidenciales en Colombia. Polo Democrático Alternativo

Encuentro de Unidad del Polo Democrático

"Con la declaración de Carlos Gaviria, donde asume la jefatura nacional de la campaña del candidato Presidencial Gustavo Petro, se inicia una nueva etapa en el Polo Democrático, un Polo unido por el “Cambio Seguro”.

Después de casi 7 meses, Carlos Gaviria reapareció en plaza pública, esta vez abrazando y luego levantando sus manos, agarradas junto a las del Candidato del Polo Gustavo Petro, en señal de victoria, imagen que quedó grabada entre los polistas como símbolo de Unidad."
"Cuando el barco amenaza hundirse es cuando tenemos que estar presentes” (Carlos Gaviria).

Noticia completa en: http://www.polodemocratico.net/Registraduria-ofrecio-plenas

jeudi 15 avril 2010

Opinión - Aunque sean “poquitos”

Tarcisio Bertone, secretario de Estado vaticano

por Camila Maturana

La visita del cardenal Tarsicio Bertone debía haber apoyado la idea de que la Iglesia chilena repudia los abusos sexuales donde quiera que se cometan, y que no amparará a delincuentes. No obstante, la estadía del representante papal sembró más dudas que certezas.

Artículo completo publicado en: http://www.prensaescrita.com/adiario.php?codigo=CHI&pagina=http://www.lanacion.cl

mercredi 14 avril 2010

Opinión - Beligerancia

por Yoani Sánchez

Hace un par de meses tuve el gusto de hablar en un hotel habanero con un periodista extranjero que había escrito un largo artículo contra mí. La charla fue muy amena, aunque le reproché el haber redactado un texto tan extenso sin entrevistar antes al objeto de su diatriba, una persona viva y fácilmente localizable en La Habana. Después de dos horas de preguntas y respuestas, nos dimos cuenta que ambos queríamos básicamente lo mismo: un marco de respeto para nuestras ideas. Él lleva a cabo una cruzada contra los medios hegemónicos imperantes en su país y yo trato de que los cubanos puedan sacudirse el monopolio informativo estatal. Visto así, se trata de aspiraciones similares.

Entre las estrategias más usadas por el discurso oficial en Cuba está la de separar a los ciudadanos en compartimentos no conectados. En la medida que cada uno se niega a escuchar al otro, no pueden constatar que tienen observaciones afines sobre su realidad y deseos confluentes de mejorar el país. Por eso se sataniza al crítico y se le impide a los periodistas oficiales invitarlo a los estudios de la televisión a participar en esos paneles aburridos donde todos tienen el mismo punto de vista. Se repite la táctica de “echar a pelear” a personas que sentadas frente a una taza de café confirmarían sus afinidades en lugar de ahondar en sus diferencias. Siempre que escucho denigrar a alguien con adjetivos encendidos al estilo de “mercenario” o “vendepatria” me percato de que el emisor de tantas calumnias teme –en su interior– que en un debate no pueda dejar los gritos y argumentar sus ideas. Los que ofenden son, generalmente, los que temen a la sana polémica por estar carentes de razones.

He leído con sorpresa y optimismo el intercambio de cartas entre Silvio Rodríguez y Carlos Alberto Montaner. Cuando dos figuras que han sido colocadas en las antípodas pueden llevar a cabo una controversia sin apelar al alarido o a la amenaza, es señal de que las inyecciones de crispación ya no funcionan. De pronto hemos visto como el cantautor de la “utopía” y el “archienemigo” del gobierno han comenzado a mantener correspondencia y a debatir sus puntos de vista. Me pregunto si esa es la señal de arrancada para que en el interior del país un miembro del partido comunista pueda sentarse a dialogar con otro que pertenece a un grupo de la oposición. ¿Estaremos asistiendo al derrumbe de las paredes interiores que nos aislaron a unos de otros? ¿Cuántos más estarían dispuestos a dejar a un lado la injuria y sentarse a conversar? Quisiera creer que sí, que el mero hecho de responderle a un contrincante es la prueba de que se le respeta, la mejor forma de validar su existencia y su derecho a pronunciarse.

Publicado en: http://www.desdecuba.com/generaciony/

mardi 13 avril 2010

Sparks of War? Military Cooperation between Colombia and the US from a Strategic Perspective

by Vicente Torrijos R.

Summary: The military cooperation agreement signed between Colombia and the US in November 2009 unleashed a flurry of debate in the continent regarding the scope of the fight against narcoterrorism and the presence of US forces in Latin America.

Military cooperation between Colombia and the US has continued since the very first Military Assistance Agreement in 1952. US assistance has broadened from the military sphere of defence to the wider area of security in order to encompass the fight against terrorism, drug trafficking and other threats to Colombia’s national security. Bilateral agreements have been signed against a backdrop of regional and international statements in this connexion, and after governments such as those of Ecuador and Peru refused them the use of their facilities.

The Supplemental Agreement for Cooperation and Technical Assistance in Defence and Security (SACTA) between the governments of the Republic of Colombia and the US was signed in November 2009, allowing the presence of US forces in Colombian bases. Colombia’s exceptionality triggered significant reactions, initiatives and political-strategic trends at both the regional and extra-regional levels. This ARI describes the process of cooperation between the Colombian and US governments, assesses the agreement and outlines the controversies and costs it has generated both inside Colombia and in the broader regional context.

Full text analysis in Real Instituto Elcano: http://http://www.realinstitutoelcano.org/wps/portal/rielcano_eng/Content?WCM_GLOBAL_CONTEXT=/elcano/Elcano_in/Zonas_in/ARI16-2010

vendredi 9 avril 2010

La democracia en América Latina y Venezuela

Por Asdrúbal Aguiar

"Una evaluación crítica del estado de la democracia en América Latina, de modo particular en Venezuela, exige clarificar antes la idea de la democracia. El recién bautizado “socialismo del siglo XXI” – copia matizada pero consecuente con el modelo constitucional cubano de 1976, reformado en 1992 – e instalado en ésta con propósitos de expansión regional y vocación polarizante, así lo demanda."

"...el estado actual de la democracia en Venezuela a la luz de la Carta Democrática Interamericana y en contraste con sus predicados no puede ser menos paradójico. La práctica gubernamental y la correspondiente a los demás poderes del Estado muestra un permanente desafío a los estándares de la democrácia contenidos en aquélla, pero los órganos de la propia OEA, por lo general, no se atreven a concluir de modo preciso acerca de la naturaleza antidemocrática del régimen venezolano."

Artículo completo en: http://www.escenariosalternativos.org/default.asp?seccion=escenarios2&subseccion=escenarios2&nota=3782

jeudi 8 avril 2010

Bolivia después de las elecciones: ¿a dónde va el evismo?

por Pablo Stefanoni

The triumph of Evo Morales in the 6th December elections, with 64% of the votes, completely reshapes the Bolivian political field and consolidates the first new way in politics since 1952. However, there is a lot of confusion about the exact nature of the Bolivian process, between those who believe they see non-existent eco-communitary and anti-modern transformations, and those who are in complete denial of the indigenous identities. This article sustains that political-sociological rapprochement would allow light to be thrown on the social bases (and ambivalences) of the current process of change: in particular, enabling popular nationalism to be identified, which acts as a unifying nucleus of the governing party. Although it is showing a more indigenous face today than in the 1950s, popular nationalism has recuperated almost entirely the modernizing, industrial and economic development imagery of the past.

Texto completo: PDF
Publicado en: http://www.nuso.org/upload/articulos/3669_1.pdf

mercredi 7 avril 2010

Caudillismo militar

por Luis Losada Soucre

Lo que Felipe González describe tan acertadamente no es otra cosa que la alianza cívica militar en la que pretenden solaparse los ideólogos del régimen.

"El socialismo del siglo XXI que se nos ofrece desde Venezuela no es otra cosa que un caudillismo rural y militar, con una manguera de petróleo".

Así describió recientemente el ex Presidente socialista español, Felipe González, a la revolución bolivariana. Declaración inolvidable por su altísimo poder de recordación.

Opinión de alto impacto para la reflexión pública, que sepulta a lo aludido en una estacada, simplemente por la imposibilidad de ser superada.

Pero más allá del tono lapidario de sus palabras, si se analizan conceptual y fríamente las dos frases completas que conforman sus declaraciones, se llega a la conclusión de que no se trata sólo de una impronta mediática feliz, sino que parecen sustentadas por un conocimiento bastante hondo sobre la realidad del país, sin la mascarada prepotente y simuladora con la que muchos líderes europeos observan los procesos políticos y sociales de América Latina.

En efecto, ningún venezolano lo ha dicho mejor, aun cuando tuvieran las ideas en la punta de la lengua. Al afectado futurismo con que se denomina a esta receta de socialismo a la venezolana, el líder del PSOE no duda en pulverizarlo con un calificativo antagónico: el caudillismo y, por extensión, las montoneras de antaño. Y por si fuera insuficiente, le agrega el singular matiz de ruralidad, de tercer mundo, de república bananera.

Insatisfecho con sus propios aciertos dialécticos, Felipe González abunda tan sibilino como eficazmente, al incluir la invariable bota militar que caracteriza a cualquier régimen autoritario en todos los anales de la historia universal.

La charretera que ancestralmente y por esencia, siempre ha estado dispuesta a asaltar la civilidad para perpetuarse en el poder.

En síntesis, lo que Felipe González describe tan aceradamente no es otra cosa que la alianza cívica militar, en la que pretenden solaparse los ideólogos del régimen, cuando intentan definir a este neo-socialismo tropical en ciernes, y en plena etapa de transición hacia un comunismo, ya confeso y convicto por su líder prominente e insustituible, al declararse marxista mesiánico y autodidacta, ya que jamás necesitó leer y mucho menos analizar El Capital, la obra cumbre de Carlos Marx.

Frente a tan evidente anacronismo a la modernidad política, Felipe González da el tirón definitivo a la manta encubridora, advirtiendo que ese caudillismo rural y militar que se ha entronizado en Venezuela, sólo puede explicarse con la más grande de las metáforas capitalistas: la manguera de petróleo con la que el régimen agota las arcas del erario público, para empapar, subyugar y comprar conciencias propias y ajenas, dentro y fuera del maleable, pragmático y comúnmente mercenario orden democrático internacional.

Publicado en Tal Cual digital: http://www.talcualdigital.com/Avances/Viewer.aspx?id=33253&secid=44

mardi 6 avril 2010

Livro debate desafios da esquerda após governo Lula

Realizado na Universidade do Estado do Rio de Janeiro (Uerj), o lançamento do livro “Brasil, entre o passado e o futuro” (Ed. Boitempo e Ed. Fundação Perseu Abramo) transformou-se em um animado debate sobre as perspectivas da esquerda ao fim do governo Lula. Coordenadores da edição, o sociólogo e secretário-executivo do CLACSO, Emir Sader, e o assessor especial da Presidência da República para Assuntos Internacionais, Marco Aurélio Garcia, fizeram um convite à sociedade para discutir as possibilidades de aprofundamento no período pós-Lula dos avanços econômicos e sociais conquistados pelo atual governo.

“Nas grandes transformações pelas quais o Brasil passou, sempre houve uma certa simultaneidade entre as reflexões sobre e país e as manifestações artísticas. Isso aconteceu nos anos 30, no final dos anos 50 até a metade dos anos 60 e acontece no momento que estamos vivendo nesses últimos anos”, disse Garcia. Após citar “contribuições inestimáveis” como as de Gilberto Freyre, Sérgio Buarque e Caio Prado nos anos 30 e as de Raymundo Faoro e Celso Furtado no final dos anos 50, Garcia fez um lamento: “É curioso que, no momento atual, onde estamos passando por uma transformação mais intensa graças às mudanças na economia e na estrutura social do país, o pensamento brasileiro seja tão acanhado”.

O livro, segundo Garcia, não tem a pretensão de preencher um vazio que “só se preenche a partir de um movimento mais intenso da sociedade” mas tem o objetivo de chamar a atenção sobre o Brasil atual: “Grande parte da chamada intelectualidade progressista, na qual incluo a mim e ao Emir, estamos, senão calados, um pouco tímidos. O lugar de debate atual foi ocupado por sub-intelectuais de direita que resolveram fazer de sua atividade intelectual medíocre uma forma, inclusive, de construir carreira nos grandes órgãos de comunicação do país. Todos os dias tropeçamos na indigência intelectual, quando não mesmo na fúria, que esse setor tem expressado em seus pensamentos”.

Segundo Emir Sader, a análise do governo Lula é fundamental para que o Brasil avance ainda mais: “Qualquer avaliação que se tenha do governo Lula, é preciso reconhecer que é um período de enormes transformações. Vivemos um período em que o velho insiste em sobreviver e o novo tem dificuldades em encontrar suas formas de existir. O velho é o neoliberalismo, e o novo é aquilo que vai superar o neoliberalismo”, disse.

O enfrentamento ao neoliberalismo, na opinião de Emir, já acontece no Brasil, mas pode ir mais longe: “Eles propõem ajuste fiscal, nós propomos prioridade às políticas sociais. Eles propõem tratado de livre comércio, nós propomos integração regional. Esses são dois avanços significativos, mas chegamos a um certo limite, não só porque está terminando o mandato de Lula, mas porque precisamos pensar mais a fundo que Estado e que sociedade queremos ter. Pensar quais são as transformações que o Brasil precisa e qual é o bloco social, político e cultural que pode levar isso a cabo”.

Para tanto, afirma o sociólogo, é preciso um debate amplo na sociedade: “Nós podemos ganhar a eleição do jeito que está, apenas comparando um governo com o outro. Mas, nós tivemos um governo relativamente moderado e que, no entanto, recebeu uma reação duríssima da direita. Imagina como será com as transformações que teremos pela frente. Temos que democratizar a relação do Estado com a sociedade e criar uma nova articulação entre as instâncias de poder político e as mobilizações sociais”.

Emir afirma que novos setores sociais estão chegando à cidadania econômica e social: “Agora, falta chegar à cidadania política. A tarefa mais importante da esquerda hoje é restabelecer as suas relações com os novos setores sociais. O governo está fazendo o seu papel ao desenvolver políticas econômicas e sociais distributivas que pela primeira vez mudaram positivamente o cenário da desigualdade no Brasil. Mas, quem tem que organizar e apoiar esses setores são os movimentos sociais e os partidos políticos. O Estado está promovendo direitos fundamentais que antes não existiam, agora precisamos de novos sujeitos políticos para mudar a configuração. Não tem como fazer uma política deste tamanho para depois ter que negociar com Temer e Stephanes num universo pequenininho. É preciso desenvolver sujeitos econômicos e sociais que superem os obstáculos hoje colocados, por exemplo, à política agrária ou à política de comunicações”.

Avanço da democracia
Marco Aurélio Garcia concorda que a sucessão de Lula é uma oportunidade para o avanço da democracia no país: “Estamos fazendo mudanças no marco democrático e com o aprofundamento da democracia, muito longe de algumas visões apocalípticas que dizem que o país está à beira de um projeto totalitário. Os que dizem isso podem repetir todos os dias, e vão continuar repetindo, mas vão enfrentar o descrédito da sociedade brasileira, que se deu conta que a opinião pública não é a opinião publicada. Há uma defasagem cada dia maior, e quem insistir nessa tese corre o risco de se isolar cada vez mais politicamente”.

Falar que o atual governo apenas deu continuidade à política econômica do governo do PSDB, segundo Garcia, é outra tese fadada ao fracasso: “O governo Lula tem importantes pontos de ruptura com a política anterior. Não é uma ruptura total, mas é uma ruptura substantiva e que prepara transformações futuras mais relevantes”.

Transformações
Emir Sader aponta algumas transformações que, segundo ele, ainda precisam acontecer: “O Banco Central, de fato, continua sendo independente. O Lula torce pro Corinthians e torce pra taxa de juros não subir. É preciso acabar com esse jogo de tensões, pois a política monetária deve estar atrelada a uma política maior de desenvolvimento. O Brasil continua a ter a taxa de juros mais alta do mundo”.

Outro tema grave a resolver, disse Emir, é o modelo do agronegócio: “Não é uma questão passível de ser resolvida por um decreto. A produção de soja para exportação e o uso de transgênicos não estão circunscritos a algumas grandes empresas, mas, infelizmente, estão estendidos a uma enorme quantidade de pequenas e médias empresas. Esse governo fez mais coisa em relação ao campo do que o se diz por aí, mas é preciso ser ainda mais substantivo”.

“Outro fator é algo que não depende do governo, mas espero que venha a depender, que é a democratização da imprensa. Não haverá democracia no Brasil enquanto não se constituir democraticamente a opinião pública formada pelas múltiplas vozes do Brasil e não por cinco ou seis famílias proprietárias de empresas e financiadas, em grande parte, pelas agências de publicidade. São empresas privadas movidas por dinâmicas de lucro”, acrescentou Emir.

Avançar na democratização dos meios de comunicação deve ser uma das tarefas fundamentais de um eventual governo de Dilma Rousseff, segundo Emir: “Eles fabricam a opinião pública nos Jardins em São Paulo e na Zona Sul do Rio de Janeiro, só que o povo já não respeita. O povo vota em quem faz política social, só que no cotidiano nós não discutimos os temas mais importantes para o Brasil. Em certo momento, parecia que o Renan Calheiros era o principal problema do Brasil. Depois, foi o Sarney. É preciso possibilitar a essas novas forças sociais e políticas uma imprensa que chegue a elas, que fale de seu mundo e que permita que elas se expressem”.

Derrota estratégica
Emir Sader admite que “não faltarão aqueles que dirão que é um livro chapa-branca”, mas defende a reflexão sobre o governo: “Nós estávamos certos quando, num momento difícil no começo desse governo, escolhemos este espaço para continuar. Achávamos que era possível o governo mudar, e o governo mudou para muito melhor. Os que falaram que o governo mordeu a maçã da traição e estava expulso do paraíso da esquerda e quiseram criar uma alternativa revolucionária estavam errados. Não só teoricamente, mas também desapareceram da cena política. Foi o fracasso de um diagnóstico equivocado”.

O caminho, segundo o sociólogo, é aprofundar as conquistas obtidas: “Quem se pergunta se a Dilma estará à esquerda do Lula deve perceber que o Lula está à esquerda do que ele foi no começo do governo. Precisamos aprofundar isso que está aí, com muito debate e muita mobilização. Estamos num momento extraordinário, às vésperas de impor uma derrota estratégica de longo prazo para a direita e ganhar um grande espaço de avanço. Agora não se trata mais de herança maldita, mas sim de herança bendita. Temos que ganhar as eleições, mas temos que ganhar para transformar o Brasil. Ou o governo Lula será um parêntesis ou será uma ponte para sairmos definitivamente do atraso. Acho que temos condições de caminhar no sentido da superação do neoliberalismo”.

Enlace:http://devel.fpabramo.org.br/conteudo/livro-debate-desafios-da-esquerda-apos-governo-lula